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ARQUIVO PESSOAL |
No século XVII começaram as primeiras bandeiras a entrar pela região que é hoje o estado de Mato Grosso. O primeiro homem branco que chegou à região onde depois seria Cuiabá, foi o bandeirante paulista Manoel de Campos Bicudo, entre 1673 e 1682. Em sua companhia, o seu filho, Antônio Pires de Campos, com 14 anos. Em busca do ouro, acampou na foz do rio Coxipó com o Cuiabá, e deu ao local o nome de São Gonçalo, santo padroeiro dos navegantes.
Em 1717, já adulto, Antônio Pires de Campos retornou à região, e no antigo São Gonçalo encontrou aldeamento de índios Coxiponé. Aprisionou muitos e rebatizou o local com o nome de São Gonçalo Velho.
Mais tarde, depois de muitas aventuras, chegou a São Gonçalo Velho, Pascoal Moreira Cabral e seus homens. Deixando alguns homens no local para tomar conta, subiu cuidadosamente o rio Coxipó e, no caminho encontraram muitos peixes secando ao sol, onde deu ao local o nome de rio dos Peixes, retrocedendo até outro córrego, o Mutuca. De volta, encontrou novidades, pois seus homens haviam encontrado ouro há várias léguas do rio Coxipó, na foz do rio Cuiabá.
Amedrontado, buscou ajuda com o bandeirante Fernão Dias Falcão. Vitoriosos, deram combate aos índios Coxiponé e, no dia 08 de abril de 1719, nas margens do rio Coxipó, no meio daquela rancharia, reunida aquela gente simples e rude, Moreira Cabral mandou lavrar a ATA de fundação do Arraial de Cuiabá.
Com a notícia do ouro, no início de 1720 chegou a São Gonçalo Velho o paulista Antônio de Almeida Lara. Ali achou boa lavra no córrego do Queimado, próximo ao Mutuca, erguendo aí o Arraial do Queimado, onde se instalou. Com a notícia do ouro, os moradores de São Gonçalo Velho se mudaram para as novas lavras, surgindo assim, um novo arraial no rio Coxipó, A Forquilha.
Na Forquilha, redobradas as esperanças dos bandeirantes, construiu-se uma pequena capela, por invocação de Nossa Senhora da Penha de França, onde foi rezada uma missa. A capela de Nossa Senhora da Penha de França, cuja imagem oriunda de Araritaguaba, resplandecia “ diariamente, no altar enfeitado com flores silvestres, delicada ornamentação, oferta da alma e do coração dos bravos faiscadores do século dezoito, na consagração à Virgem protetora da sua crença, da sua fé, dos seus amores e das suas esperanças.
Ali, na humildade do ambiente, em contraste com o fausto do cenário maravilhoso da natureza mato-grossense, na manhã de 21 de fevereiro de 1721, o padre Jerônimo Botelho, eleva pela primeira vez, em pleno sertão de Mato Grosso, a Hóstia Sacrossanta de fé católica, abençoando aquelas regiões selvagens, que as afoitezas dos paulistas integraram na comunhão da terra brasileira. Assistiram ao ato, Pascoal Moreira Cabral, Antônio Antunes Maciel e outros sertanistas, que se encontravam nas minas, onde o núcleo do povoado fundado três anos antes, crescia ornamentando o cenário da terra promissora e fecunda.
Com a migração do Arraial Velho para a Prainha, o local despovoou, e o pessoal resolveu, aqueles que não desceram para a Prainha, migrar para o atual Coxipó do Ouro. A chegada de novos migrantes e imigrantes desencadeou, reforçou e, no mínimo coincidiu com a mudança do primeiro local de arraialamento: “ (...) chegados ao Arraial que é hoje a Capela de São Gonçalo, mudaram-se todos para o Rio Coxipó acima, lugar chamado hoje Forquilha, onde formaram Arraial e levantaram Igreja com o título de Nossa Senhora da Penha de França, celebraram-se os ofícios divinos, sendo o primeiro que fez vezes de Capelão, por eleição comum, o Padre Jerônimo Botelho e, depois o Padre André dos Santos Queiroz”. (SÁ, José Barbosa de. Relação..., cit., p.13).
Baseado nessa tradição, a comunidade do Coxipó do Ouro se reúne sempre para a celebração que relembra a primeira missa rezada em Cuiabá, em 21 de fevereiro de 1721, na então comunidade da Forquilha. A tradicional missa em comemoração à primeira missa rezada na Capela de Nossa Senhora da Penha de França era realizada anualmente desde 1971 até o ano 2000, quando deixou de ocorrer, sendo retomada em 2016, já com o lançamento da campanha de revitalização da comunidade.
Atualmente, o nome da igreja foi mudado para Igreja Nossa Senhora do Rosário.
(*) NEILA BARRETO é jornalista pós-graduada em História.
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